Pesquisa inglesa sugere associação entre dependência do celular e problemas de saúde mental entre jovens.

Período de férias traz a discussão sobre como crianças e jovens devem se relacionar com o uso dos celulares. Segundo artigo inglês, cerca de 23% de crianças e jovens ouvidos apontam para vício

Uma pesquisa do King’s College de Londres (universidade pública do ramo de investigação) divulgada na última sexta-feira (29) sugere que a dependência de celulares pode estar associada a problemas de saúde mental. A pesquisa revela que cerca de 23% de crianças e jovens adultos estão sofrendo com comportamento identificado como vício, responsável por problemas como ansiedade por não poder usar o telefone, por não conseguir moderar o tempo gasto e pela quantidade de tempo usando o celular, prejudicando a realização de outras atividades.

Para a elaboração da pesquisa, os responsáveis analisaram mais de 40 estudos anteriores sobre o uso problemático de smartphones (entende-se por isso qualquer comportamento vinculado ao uso que possui características de vício, como sentir pânico ou transtorno quando o telefone não está disponível, encontrando dificuldades para controlar o tempo gasto). O estudo envolveu 41.871 crianças e jovens. Durante a pesquisa os pesquisadores investigaram a ligação desse uso e a saúde mental, e encontraram uma associação consistente entre o uso problemático e questões de saúde mental como depressão, ansiedade, estresse, má qualidade do sono e desempenho educacional. Solidão e baixa auto estima foram associados também ao uso problemático de smartphones.

A neuropediatra da Singular Medicina de Precisão, Julieta Góes, alerta que o aumento de uso de smartphones entre crianças e adolescentes ocorreu simultaneamente ao aumento de problemas de saúde mental nesta faixa etária. Mas, ela acredita que ainda é precoce afirmar que existe uma relação de causa e efeito: “A propriedade de smartphones em crianças de 11 anos ou mais é onipresente, e a prevalência de problemas de saúde mental atinge o pico durante a adolescência. Na última década, houve um aumento no uso de smartphones entre crianças e jovens que ocorreu ao mesmo tempo em que houve um aumento de transtornos mentais comuns na mesma faixa etária, (incluindo sintomas depressivos relatados, sono ruim e ideação suicida com implicações graves para a saúde mental ao longo da vida). Tanto a grande mídia quanto os pesquisadores levantaram a possibilidade das pessoas se tornarem viciadas no uso de smartphones. Nos últimos anos, houve uma explosão em pesquisas considerando a prevalência do uso problemático de smartphones, mas ainda não integra a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, publicada pela Organização Mundial de Saúde. Ainda são necessárias mais pesquisas para fazer uma relação de causa e efeito”.

Em fase de crescimento e desenvolvimento cerebral, crianças e adolescentes precisam de diversidade de estímulos para formar conexões em diferentes áreas cerebrais e desenvolver habilidades necessárias que irão acompanhá-los ao longo da vida. Por isso, Julieta alerta que nesse período está sendo construída essa arquitetura cerebral básica, e que por isso populações mais jovens são mais vulneráveis a desenvolvimentos psicopatológicos: “O tempo de uso da tecnologia digital deve ser limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento das crianças e adolescentes. A criança que faz uso irrestrito das telas acaba privada de outros tipos de estímulos essenciais ao seu neurodesenvolvimento. Crianças são significativamente mais vulneráveis aos efeitos nocivos do tempo que passam diante da tela do celular”.

Pesquisas já apontam para o fato de que o uso imoderado, precoce e não supervisionado de dispositivos eletrônicos têm causado prejuízos de ordem cognitiva, psíquica e física nos jovens. Os principais problemas observados foram alterações visuais, auditivas e posturais, distúrbios do sono, alterações de humor, isolamento social, agressividade, depressão, redução da capacidade cognitiva e produtiva, déficit de atenção, problemas de linguagem e transtornos ligados ao sedentarismo como obesidade, dentre outros.

QUANTO TEMPO DE TELA?
As recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria 2019 sugerem que para crianças menores de dois anos é necessário que seja evitado ou até proibida a exposição passiva às telas digitais, com acesso a conteúdo inapropriado de filmes e vídeos, principalmente, durante a hora das refeições ou nas que antecedem o sono. Crianças entre dois e cinco anos também devem ter o tempo de exposição limitado: no máximo uma hora por dia. Para crianças maiores de seis anos e adolescentes, o tempo de tela não deve exceder a duas horas por dia, a não ser em caso de trabalhos acadêmicos, estabelecendo intervalos de descanso e atividade física, restringindo o tempo de jogos online, uso de aplicativos e redes sociais.

Pesquisa inglesa sugere associação entre dependência do celular e problemas de saúde mental entre jovens.
Pesquisa inglesa sugere associação entre dependência do celular e problemas de saúde mental entre jovens.