por Kiyoko Abe-Sandes da Singular Medicina de Precisão

O que determina se uma pessoa, ao se infectar pelo Sars-Cov-2, desenvolverá sintomas ou não é o seu perfil genético. Denominamos de variabilidade genética de uma população, ou o perfil genético, o conjunto de alterações (mutações) presentes no seu material genético (DNA). A maior parte dessas alterações são frequentes e não estão associadas a doenças, ou seja não causam doenças. Entretanto essa diversidade genética é fundamental nos casos de epidemias, onde ainda não se tem disponível medicamentos específicos, pois a forma como o organismo responde à infecção depende dos variantes genéticos que o mesmo porta. Portanto, o que fará a diferença será o perfil genético dos indivíduos, que é justamente esse conjunto de variantes genéticos que possuímos.

É muito provável que a maioria (senão todas) das pessoas seja infectada pelo Coronavírus (SARS-CoV-2), tendo em vista seu alto potencial infectivo já observado e a mobilidade da população que facilitou o deslocamento do vírus de uma região a outra.Entretanto alguns indivíduos seguirão assintomáticos, outros irão manifestar a doença (Covid-19).

O que faz essa diferença?

Levando em consideração que todos somos diferentes do ponto de vista genético, isto é, somos único, singular, o efeito da interação vírus/hospedeiro vai depender do perfil genético do vírus e também do perfil genético do hospedeiro (ou seja dos variantes genéticos que possuímos). Dessa forma, a resistência à infecção, bem como o prognóstico da doença, deverá ser diferente para pessoas diferentes. Podemos fazer o mesmo raciocínio com relação ao vírus: existem diferentes cepas virais que é determinado pelos variantes genéticos que os mesmos portam, como já foi demonstrado pelo sequenciamento do genoma do Coronavírus identificado aqui no Brasil, na Itália e na China. Neste caso pode ocorrer diferença no perfil da epidemia determinado por diferenças das cepas virais e por diferenças genética da população. Toda esta informação, produzida pela ciência, nos capacita a enfrentar de forma mais eficaz esta pandemia, com diagnóstico mais rápido e preciso, que influencia tanto no controle como no seu combate.

No momento ainda não dispomos de informações suficientes sobre o perfil genético da nossa população para definirmos quais os indivíduos ou grupo de indivíduos mais vulneráveis geneticamente e com isso montarmos estratégias de controle e cuidados baseados nessa informação. O que sabemos é que mesmo que sejamos infectados pela mesma cepa viral, podemos reagir de forma diferente, não apenas por questão de idade ou alguma comorbidade, mas por termos variantes genéticos que nos torna mais vulnerável ou mais resistentes à infecção ou determina progressão mais ou menos grave.

Por que algumas pessoas desenvolvem sintomas e outras não?

*Kiyoko Abe-Sandes é Bióloga (UFBA) é mestre em Genética (UFPR) e PHD em Genética (USP), professora aposentada de Genética (UNEB) e professora de Pós Graduação do curso de Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa na FIOCRUZ/BA, biológa da Singular Medicina de Precisão, com mais de 30 anos de experiência em Genética

Conteúdo originalmente publicado no site Bahia Notícias.