Quem nunca falou ao Pediatra…

  • Dr, qual vitamina eu devo dar ao meu filho pra “abrir o apetite”?
  • Dr, dá para prescrever uma vitamina para meu filho?

Será que as vitaminas têm, de fato, esse poder?!
Bem, vou explicar um pouco o que são as vitaminas. Tratam-se de compostos orgânicos presentes naturalmente em diversos alimentos do nosso dia a dia. A ação das vitaminas está relacionada ao desempenho de funções fisiológicas do corpo, como auxiliar na obtenção de energia a partir do que comemos, integridade das células do nosso corpo e manutenção de um bom sistema imunológico. Crianças com deficiências vitamínicas são mais susceptíveis às infecções e anemia da infância.
As vitaminas podem ser classificadas em lipossolúveis (A, E, D e K) e hidrossolúveis (do complexo B e vit C). Algumas são capazes de se depositar em nossos tecidos e formar reservas; outras necessitam de uma dose diária e, quando consumidas em excesso, são facilmente excretadas na urina.
Quando em falta no nosso corpo, a deficiência de vitaminas gera doenças específicas. Por outro lado, o consumo em excesso pode estar relacionado a sintomas por toxicidade em alguns casos (calma, os níveis tóxicos são bem altos para serem alcançados com alimentação adequada para idade). Existe uma Ingestão Dietética Recomendada (IDR), determinada para atender necessidades de nutrientes e energia, que considera sexo, idade, nível de atividade física, entre outros. A IDR visa evitar carências nutricionais e o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. As recomendações foram traduzidas em porções dos alimentos mais comuns (ver tabela abaixo).

Singular MP - Vitaminas e Pediatria

Apesar dos benefícios em relação à prevenção de doenças, os efeitos são melhores demonstrados quando a fonte é proveniente de alimentos, não de suplementação.
A luz do que foi apresentado, pode-se inferir que com a alimentação é possível alcançar a ingestão adequada das vitaminas. Logo, não se faz necessário uso de multivitamínicos, uma vez que o conceito desses pelo Ministério da Saúde corresponde a: “suplementos vitamínicos são nutrientes que servem para complementar a dieta diária de uma pessoa saudável, em casos onde sua ingestão, a partir da alimentação, seja insuficiente ou quando a dieta requerer”. Assim, a utilização de multivitamínicos com segurança deverá ser realizada apenas em condições recomendadas por médico ou nutricionista.
Adotar, portanto, uma alimentação saudável e variada é a melhor forma de oferecer ao organismo as quantidades adequadas desses micronutrientes.
Então, respondendo à pergunta: não existe uma “vitamina” específica para abrir o apetite. Assim como não se deve suplementar nenhuma vitamina sem recomendação de médico ou nutricionista, sobre o risco de gerar efeitos colaterais à criança.
Por exemplo, a vitamina C, quando ingerida em excesso – geralmente a quantidade disponível em suplementos é acima da necessária, principalmente se somada à ingestão da dieta – pode predispor à formação de pedras nos rins. Outro exemplo é a intoxicação por Vitamina D, principalmente em crianças, em que já foram reportados casos de erro do fabricante na formulação e recomendação de ingestão, causando sintomas como náusea, fadiga, perda de apetite, vômitos, perda de peso e constipação.
Na dúvida, sempre consulte seu Médico Pediatra e/ou Nutricionista. Ele vai poder te orientar melhor.

Fontes:
PADOVANI, RM e cols. Dietary reference intakes: aplicabilidade das tabelas em estudos nutricionais. Rev. Nutr., Campinas, 19(6):741-760, nov./dez., 2006.
Institute of Medicine. Dietary reference intakes for vitamin C, vitamin E, selenium, and carotenoids. Washington (DC): National Academy Press; 2000.
Institute of Medicine. Dietary reference intakes for thiamin, riboflavin, niacin, vitamin B6, folate, vitamin B12, pantothenic acid, biotin, and choline. Washington (DC): National Academy Press; 1998.
ABE-MATSUMOTO, LT; SAMPAIO, GR; BASTOS, DHM. Suplementos vitamínicos e/ou minerais: regulamentação, consumo e implicações à saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(7):1371-1380, jul, 2015.

Texto por:
Drª Ligiana Leite (Pediatra e Nutróloga) e Rejane Viana (Nutricionista)