Por Drª Patrícia Pontes (Médica Residente em Genética Médica)
Não podemos negar que a genética está atrelada a todas as especialidades médicas. É o fundamento que possibilita trilhar caminhos que os profissionais de saúde não estavam habituados.
Reconhecer a importância é o primeiro passo! Seguinte, precisamos identificar de que forma as descobertas científicas e avanços tecnológicos em genética podem nos guiar pela prática clínica.
É uma nova habilidade do conhecimento a ser alcançada, vamos tentar juntos?
A especialidade de escolha de hoje é da Hematologia – clínica e oncológica.
A temática abordada será Falência Medular Congênita, um espectro heterogêneo de desordens hematológicas raras causadas por uma insuficiência / falência medular progressiva que aumenta a predisposição aos cânceres hematológicos e sólidos.
Algumas doenças que representam esse grupo são Anemia de Fanconi, Anemia de Blackfan – Diamond, Disqueratose Congênita, Síndrome de Shwachman – Diamond, Púrpura amegacariocítica congênita e Neutropenia congênita. Nesse primeiro momento, iremos abordar Anemia de Fanconi.
A Anemia de Fanconi é a causa genética mais comum de anemia aplástica. Até o momento foram descritos variantes patológicas em 22 genes, responsáveis pela alteração do reparo normal do DNA, ocasionando uma instabilidade cromossômica e corroborando clinicamente com as malformações congênitas, predisposição ao câncer e toxicidade elevada aos agentes alquilantes.
As manifestações clínicas são variadas, desde fenótipos leves até quadros mais graves, com acometimento de múltiplos sistemas. Geralmente, a pancitopenia, redução das células sanguíneas e das plaquetas, se apresenta na primeira década de vida (5-10 anos). Os sinais e sintomas mais reportados na literatura científica são microcefalia, anomalias renais, malformações gastrointestinais, baixa estatura, pigmentação anormal da pele (como manchas café com leite, hipopigmentação), malformações esqueléticas (por exemplo, polegar hipoplásico), deficiência intelectual e fertilidade reduzida.
A incidência de leucemia mielóide aguda é de 13% aos 50 anos, além de uma maior predisposição a tumores sólidos como carcinomas espinocelulares da cabeça e pescoço, esôfago, vulva e tumores hepáticos, além de câncer do colo uterino. Por isso, é indicada a vacina contra HPV nos indivíduos como forma de prevenção primária do câncer uterino, além de acompanhamento regular com equipe multidisciplinar.
O diagnóstico é realizado pelo teste citogenético de linfócitos com diepoxibutano (DEB) e mitomicina C (MMC), sendo observado um aumento da quebra cromossômica e formas radiais. Outra opção diagnóstica é pelo sequenciamento dos genes associados referidos até então, sendo mais comuns as variantes patogênicas no gene FANCA. O diagnóstico preciso e precoce é importante para uma rápida conduta terapêutica personalizada.
Referências
Fanconi Anemia: Guidelines for Diagnosis and Management Fourth Edition , 2014. Disponível em https://www.fanconi.org/images/uploads/other/FARF_Guidelines_Book_interior_lo-res.pdf Acesso em 08 de maio de 2020
McKusick, V.A. e O’Neill, M.J. F. . FANCONI ANEMIA, COMPLEMENTATION GROUP A; FANCA. Disponivel em https://www.omim.org/entry/22765 Acesso em 02 de julho de 2020.
Mehta, P.A. e Tolar, J. Fanconi Anemia. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1401/ Acesso em 02 de julho de 2020.