O TEA é um transtorno neurocomportamental caracterizado por déficits na interação social, linguagem, comunicação social e comportamentos repetitivos ou rígidos, que se inicia antes dos 3 anos de idade.

Existe um teste genético para o diagnóstico de autismo? Um teste genético não pode diagnosticar ou detectar o autismo. O diagnóstico é clínico, baseado na observação comportamental da criança. Mas a probabilidade de encontrar uma variante genética que pode ser atribuída ao TEA, aumenta se ao exame clínico a criança apresentar características faciais e físicas incomuns, deficiência intelectual, convulsões ou outros diagnósticos associados, podendo o TEA ser um componente comportamental de síndromes genéticas, dentre elas:

• SINDROME DO X FRAGIL: causada por mutações no gene FMR1, envolvendo meninos com deficiência intelectual associada a macrocefalia e baixo tônus muscular, face alongada, mandíbula avantajada, testículos grandes, peito escavado, escoliose, características que nem sempre são evidentes antes da puberdade;

• ESCLEROSE TUBEROSA: Associada a mutações nos genes TSC1 e TSC2. A criança com epilepsia e variados quadros comportamentais associados a anormalidades na pele;

• SÍNDROME DE ANGELMAN: causada por alterações no gene UBE3A, promovendo atraso no desenvolvimento, epilepsia, deficiência intelectual, comprometimento da fala e linguagem e problemas com movimento e equilíbrio;

• SÍNDROME DE PHELAN MCDERMID: Associada à deleção no gene SHANK3. Os pacientes têm quadro de TEA (80%), deficiência intelectual, fala atrasada ou ausente e tônus diminuído.

Por que fazer um teste genético em uma criança com TEA?

Para identificar a origem e planejar o futuro. Se um teste revelar uma mutação patogênica (prejudicial) relacionada com o TEA, os pais se sentem mais confortados por ter uma explicação para o problema de seu filho. Isso ajuda a compreender melhor os pontos fortes e fracos no seu desenvolvimento e na elaboração de expectativas mais realistas para o futuro da criança, permitindo apreciar pequenos progressos e calibrar melhor as intervenções, além de calcular o risco de recorrência na família, em novas gestações, ajudando, portanto, no planejamento familiar. Além disso, é possível usar as informações para explicar o comportamento da criança a outros médicos, professores, cuidadores e parentes e encontrar apoio emocional e prático com outras famílias e grupos de profissionais que lidam com a mesma mutação.

Quais tipos de testes genéticos estão disponíveis para investigação do TEA?

CARIOTIPO:
Ou seja, a análise dos cromossomos sob um microscópio. Este teste detecta de maneira confiável as alterações que compromete segmentos maiores que 10 milhões de pares de bases (perdas, ganhos ou trocas de posição de segmentos desse tamanho ou de um cromossomo inteiro).Melhorias contínuas nas abordagens citogenéticas, incluindo estudos de alta resolução, aumentaram o rendimento diagnóstico dos estudos citogenéticos convencionais para identificação da causa em aproximadamente 3% dos casos de TEA.

CGH-ARRAY (ou SNP-ARRAY):
Identifica duplicações ou deleções de fragmentos do DNA muito pequenas que não aparecem em um cariótipo.

PCR:
É uma técnica que realiza múltiplas cópias de um segmento específico do DNA humano, utilizada para pesquisa de expansões por repetições de trinucleotídeos, como por exemplo no diagnóstico da síndrome do X-frágil.

MLPA:
É um exame que detecta deleções ou duplicações no DNA, mas são direcionadas para determinadas regiões do genoma, ou seja, são específicas para as doenças, como na suspeita da síndrome de Angelman.

EXOMA:
Sequencia TODA A REGIÃO DO DNA CODIFICADORA DE PROTEÍNAS, para verificar quais mutações estão presentes e associadas ao quadro clínico da criança. Algumas vezes, o médico pode solicitar a pesquisa dessas mutações em os pais. Alguns laboratórios usam painéis comerciais que sequenciam um conjunto predeterminado de genes, mas o problema desses painéis é que não incluem muitos dos genes já relacionados ao autismo.

GENOMA:
Pesquisa mutações em QUALQUER PARTE DO GENOMA e não apenas no 1,5 – 2,0% que inclui os exons (parte codificadora das proteínas). É uma ferramenta mais avançada, usada em alguns lugares como pesquisa, mas como o custo vem diminuindo, é possível que no futuro ele se torne mais amplamente disponível, podendo substituir os outros testes genéticos.

Que proporção de autistas encontra respostas em testes genéticos?

O cariótipo encontra alterações relacionadas em apenas 3% das pessoas autistas e a análise de rearranjos (CGH array), 10%. Combinar esses métodos com o sequenciamento do exoma pode identificar a etiologia em até 40% das pessoas com autismo.

E se a avaliação por testes genéticos “não der certo” ?

Um resultado negativo não significa que a pessoa não tenha uma mutação que possa causar autismo: o teste pode não detectar uma mutação em particular, ou talvez a mutação não tenha AINDA uma associação conhecida com o autismo. Muitos dos genes relacionados ao autismo hoje, não estavam associados há cinco anos. A maioria dos laboratórios de testes genéticos reanalisa os resultados uma vez por ano, com base nas descobertas mais recentes.

Por: Drª Julieta Goes

REFERÊNCIAS:
Sullivan P.F. 177, 162-183 (2019) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30901538 )
Hoang N. et al. NPJ Genom. Med. 3, 27 (2018) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30275975)
Schaefer G.B. et al. Genet Med. 15, 399-407 (2013) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23519317)
Tammimies K. et al. JAMA 314, 895-903 (2015) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26325558)

Singular Medicina de Precisão - Testes Genéticos e TEA