Por Drª Naiara Galvão, cardiopediatra da Singular Medicina de Preciaão

Drª Naiara Galvão da Singular Medicina de Precisão

A incidência de arritmias relatada em crianças é menor que em adultos, entretanto, sabe-se que suas repercussões podem ser importantes, ainda mais se não identificadas adequadamente.

Em crianças com corações estruturalmente normais, a incidência e o mecanismo das arritmias variam de acordo com idade, sexo e etnia, sendo as vias acessórias, os focos atriais ectópicos e reentrada atrioventricular responsáveis pela maioria dos mecanismos das taquiarritmias. Estas podem se manifestar com palpitação, cansaço, desconforto e/ou dor torácica, falta de ar, escotomas (manchas escuras) cintilantes, pré-síncope e síncope, podendo ocorrer perda da função do coração levando a insuficiência cardíaca nos quadros de taquicardia de comportamento incessante. A ocorrência de morte súbita é menos comum na faixa etária pediátrica, porém há relato de risco de 1,93/1.000 pacientes-ano em amplo estudo realizado com pacientes assintomáticos e com alterações eletrocardiográficas.

Em crianças que já nasceram com cardiopatia congênita, as arritmias podem ser secundárias às alterações na estrutura do coração, relacionadas às intervenções cirúrgicas ou consequência das repercussões crônicas, sendo importante a vigilância em todos os momentos do seguimento.

Por outro lado, uma causa importante de morte súbita cardíaca inexplicada são as canalopatias, doenças dos canais iônicos do coração resultantes de mutações genéticas, cursando com consequente risco de arritmias. As principais canalopatias são: síndrome do QT longo, síndrome de Brugada, taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica, síndrome do QT curto e Doença Progressiva do Sistema de Condução (DPSC). O diagnóstico molecular por testes genéticos contribui para elucidação de até 35% das mortes súbitas inexplicadas e de 10 a 15% em menores de 1 ano.

Nas crianças até os 2 anos de vida, as causas mais comuns de morte súbita cardíaca são as cardiopatias congênitas. Durante a segunda infância e a adolescência, observa-se uma tendência crescente para as arritmias primárias e as cardiomiopatias assumirem a etiologia principal.

A avaliação inicial é feita com base na história clínica pessoal e familiar e exame físico (que costuma ser normal fora da arritmia, exceto em crianças com cardiopatia congênita). O eletrocardiograma é ferramenta inicial útil.

Diante da ampla variedade etiológica, abrangendo desde situações benignas até quadros com risco potencial de morte súbita, torna-se de extrema importância o esclarecimento da causa da arritmia e a avaliação com um profissional especializado.

Para leitura adicional: Magalhães LP, Guimarães ICB, Melo SL, Mateo EIP, Andalaft RB, Xavier LFR, et al. Diretriz de Arritmias Cardíacas em Crianças e Cardiopatias Congênitas SOBRAC e DCC – CP. Arq Bras Cardiol 2016; 107(1Supl.3):1-58