A nutrição pode contribuir significativamente na prevenção e tratamento do câncer através de compostos bioativos (flavonoides, carotenóides, catequinas e outros) presentes nos alimentos, que apresentam propriedades anticancerígenas e quimiopreventivas.
Os compostos bioativos não são nutrientes específicos, mas grupos químicos presentes nos alimentos, chamados de “fitoquímicos” e responsáveis por dar a cor, aroma e sabor as frutas e vegetais.
Cerca de 30-40% dos cânceres são influenciados pela dieta (ARDEKANI & JABBARI, 2009), por isso, os fitoquímicos vêm sendo estudados na gestão da terapia do câncer. Há relatos destes fitoquímicos funcionando tanto na prevenção do câncer e tumorigênese (formação de tumor) precoce, quanto em etapas mais avançadas de desenvolvimento carcerígeno, a exemplo da metástase.
Apesar do câncer ser uma doença complexa e apresentar múltiplas alterações genéticas e epigenéticas que levam a várias alterações no metabolismo celular, um dos primeiros eventos associados a carcinogênese é a produção de muitas Espécies Reativas de Oxigênio (EROS). OS EROS são produzidos em resposta a estímulos internos e externos que promovem “estresse oxidativo”, podendo levar a danos em biomoléculas como DNA, RNA ou proteínas (PELUSO & SERAFINI, 2016).
Estudos em nutrigenômica mostraram que determinados fitoquímicos tem efeito antioxidante (funcionando como eliminadores de EROs) e anti-inflamatório, minimizando assim os danos ao DNA, miRNAs e as células.
Mais estudos são necessários para a compreensão molecular e metabolômica do câncer e de outras doenças, para evidenciar a relação entre a quantidade de alimentos ingeridos e seus efeitos terapêuticos, tornando as recomendações na área da Nutrição mais precisas e aplicáveis.
As descobertas sobre a interação gene-nutriente na prevenção do câncer avançaram desde 2001, quando o conceito de nutrigenômica foi pela primeira vez apresentado. Contudo, um dos maiores desafios atuais é a aplicabilidade da Nutriepigenética, pois envolvem mecanismos de metilação do DNA e modificação de histonas, organização de nucleossomos e outros, que não se relacionam diretamente a mudanças na sequência do DNA, mas interfere na expressão gênica (PELUSO, 2017).
Dentre os fitoquímicos de interesse na terapia do câncer, temos os:
- Flavonoides: já foi associados na prevenção do câncer de cólon, fígado, próstata, além de estudos que comprovam a redução do risco de câncer de esôfago. Os flavonóides são encontrados no chocolate, chá verde e uva.
- Isoflavonas: Possui papel de modulação cancerígena, atuando na inibição do câncer de ovário; e reduz risco de câncer de mama, principalmente em mulheres na menopausa. Encontradas principalmente na soja, sementes de linhaça, azeite de oliva, ervilha e amendoim.
- Carotenóides: Atua na quimioprevenção pelo efeito antioxidante. Encontrados no tomate, cenoura, milho, couve, espinafre, goiaba, laranja, mamão, ameixa, manga e outros.
- Resveratrol: Possui efeito anti-inflamatório e antioxidante através da regulação da atividade redox e reparo do DNA, com efeito positivo em câncer de próstata, mama e pulmão. São encontrados principalmente no vinho e sementes de uva.
- Catequinas: Atua na inibição de etapas de replicação de células cancerígenas ou na redução do crescimento do tumor. Já foi descrito na prevenção de melanoma e câncer de pulmão. São encontrados no chá verde, chá preto e chá mate.
Dessa maneira, os fitoquímicos são capazes de atingir uma infinidade de genes-chave que levam ao desenvolvimento do câncer, com atividades antioxidantes e bloqueio de fatores de crescimento do tumor, envolvidos no desenvolvimento de células cancerígenas.
Vale destacar que nem sempre é possível encontrar quantidades suficientes dos fitoquímicos nos alimentos, sendo necessário lançar mão de algumas manipulações em determinadas situações. Por exemplo, alimentos como frutas e legumes, nozes, castanhas, vinho e chás apresentam grupos químicos com potencial de agir sobre a quimioprevenção; entretanto, a desvantagem é que quase nunca serão encontrados na quantidade suficiente para alcançar efeito biológico, logo, a decisão pelo nutracêutico (forma manipulada) é a mais adequada, e deve ser conduzida de maneira individualizada.
REFERÊNCIA
Aderkani, A.M.; Jabbari, S. Nutrigenomics and Câncer. Avicenna Journal of Medical Biotechnology. v. 1, n. 1, p. 9-17, 2009.
Braicu Cornelia, Mehterov Nikolay, Vladimirov Boyan, Sarafian Victoria, Nabavi Seyed, Atanasov Atanas G, Berindan-Neagoe Ioana. Nutrigenomics in cancer: revisiting the effects of natural compounds. Seminars in Cancer Biology http://dx.doi.org/10.1016/j.semcancer.2017.06.011
Peluso, Ilaria, and Mauro Serafini. “Antioxidants from black and green tea: from dietary modulation of oxidative stress to pharmacological mechanisms.” British journal of pharmacology vol. 174,11 (2017): 1195-1208. doi:10.1111/bph.13649